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Teresa Saldarriaga: uma voz fundamental do cinema e da defesa dos diretores na Colômbia

  • CreatorsNews
  • há 24 horas
  • 4 min de leitura
Oito anos após a promulgação da Lei Pepe Sánchez, a Colômbia se consolida como referência regional no reconhecimento dos direitos autorais para diretores audiovisuais. No centro desse processo está Teresa Saldarriaga, diretora, gestora e atual presidenta da Directores Audiovisuales Sociedad Colombiana de Gestión (DASC), entidade que representa e defende os direitos patrimoniais dos realizadores no país.

Por Ulises Rodríguez


A história da DASC é também a história de uma luta coletiva pelo reconhecimento do papel autoral dos diretores. Com uma longa trajetória no cinema e na televisão, Saldarriaga recorda o ponto de inflexão que a levou a se envolver institucionalmente: "Fui contratada para escrever cinco roteiros para uma única série e tive que abrir mão dos direitos para que pudessem usar a mesma história como um musical, uma novela, uma unidade televisiva, um romance literário, etc. E por três centavos, foi realmente um abuso e uma violação da dignidade e dos direitos dos criadores", relata à AV Creators News.


Essa experiência marcou o início de um ativismo que, anos mais tarde, resultaria em uma lei histórica.

Um longo caminho para alcançar objetivos

Com uma formação acadêmica sólida e uma sensibilidade particular para histórias com perspectiva de gênero e enfoque social, Saldarriaga trabalhou em diversos formatos, de longas-metragens a séries documentais. Entre seus trabalhos mais destacados estão Simona Amaya, Vivir o Morir por la Libertad (2023), Caminante no hay camino (1995) e Nelly (1984), obras que abordam temas como memória histórica, direitos humanos e o papel das mulheres nos processos sociais e políticos.


Em 2001, ao lado do diretor Mario Mitrotti, Teresa Saldarriaga fundou a FEDEIMAGEN, com o objetivo de reunir as diferentes associações do setor. Essa plataforma foi essencial para impulsionar uma proposta legislativa que garantisse direitos remuneratórios aos diretores. O projeto se inspirou em outras sociedades de gestão, especialmente na experiência da Directores Argentinos Cinematográficos (DAC), que ofereceu assessoria técnica e apoio estratégico.


O respaldo político veio da deputada Clara Rojas, enquanto o componente simbólico foi trazido por Pepe Sánchez, renomado diretor de televisão, roteirista e ator cujo testemunho em vídeo — divulgado postumamente durante o debate parlamentar — gerou um impacto emocional decisivo. Assim, a lei foi aprovada por unanimidade nas duas câmaras e sancionada em 2017.


O diretor Mario Mitrotti, falecido em 2024, deixou um legado fundamental para os diretores da Colômbia


Após a promulgação, a lei foi contestada pelos principais canais de televisão, mas a DASC contratou uma equipe jurídica que defendeu com sucesso sua constitucionalidade. Em 2018, a Direção Nacional de Direito de Autor (DNDA) concedeu à DASC a autorização para operar como sociedade de gestão coletiva. Desde então, a organização passou a arrecadar e distribuir direitos autorais em nome dos diretores, além de oferecer benefícios sociais e profissionais.


“Essa lei mudou a vida de centenas de diretores colombianos”, afirma Saldarriaga. Além da renda proveniente das remunerações, os filiados têm acesso a cobertura de saúde, assistência em casos de emergência, apoio educacional e bolsas para participação em festivais. Também foram criados prêmios, estímulos à pesquisa e atividades de formação em universidades.

Desafios do futuro

A presidenta da DASC destaca que o principal desafio atual é a transformação do ecossistema audiovisual. “Se não há trabalho, não há comunicação pública nem remuneração”, adverte. Nesse sentido, a sociedade está impulsionando uma reforma das leis nacionais de cinema (814 e 1556) e trabalha para que o setor audiovisual se adapte aos novos modelos de produção e distribuição.


Um dos focos de preocupação no setor audiovisual global é o impacto da inteligência artificial (IA) sobre os empregos criativos e os direitos autorais. “No Brasil, muitos dubladores já foram substituídos por vozes geradas por IA. Não podemos ficar de braços cruzados”, afirma.


Aprovação da Lei Pepe Sánchez em 2017
Aprovação da Lei Pepe Sánchez em 2017

Nesse sentido, a DASC promove ações de conscientização e regula internamente o uso dessas ferramentas, em diálogo com órgãos públicos.


Além disso, Saldarriaga considera fundamental aumentar a visibilidade dos diretores e diretoras: “São os capitães do navio, mas muitas vezes seus nomes permanecem invisíveis para o público”, afirma. E destaca que “a DASC realiza campanhas de reconhecimento público e trabalha em articulação com universidades e escolas de cinema para fortalecer a formação autoral”.


Ao mesmo tempo, enfatiza que "dentro da atual administração do DASC, estamos abordando a questão das mulheres criadoras e suas necessidades. As criadoras no país recebem salários muito diferentes porque recebem menos por fazer o mesmo trabalho que os homens, e isso é injusto".


Integração regional e solidariedade internacional

A DASC é membro ativo da AVACI (Audiovisual Authors International Confederation) e da FESAAL (Federação de Sociedades de Autores Audiovisuais Latino-americanos), de onde promove a cooperação Sul-Sul. Essas alianças, assegura Saldarriaga, foram determinantes para alcançar avanços legislativos e fortalecer a legitimidade do direito autoral na América Latina.


“Durante anos fomos ignorados pela comunidade internacional, mas hoje fazemos parte de um bloco global que defende com firmeza os direitos dos autores audiovisuais”, destaca. A Colômbia passou de um país sem legislação específica a consolidar um modelo de gestão reconhecido e em expansão.

Uma presidência com legado e projeção

Em 2024, após o falecimento de Mario Mitrotti, cofundador e figura-chave na criação da DASC, Saldarriaga assumiu a presidência de forma interina, cargo que foi confirmado em 2025. “Mario foi um líder visionário e generoso. Formamos uma grande equipe e sua ausência ainda é sentida”, expressa com emoção.


De seu cargo atual, continua impulsionando políticas públicas, acordos internacionais e alianças institucionais que garantam a sustentabilidade do setor. Sua visão é clara: “Não se trata apenas de arrecadar remuneração, mas de construir uma indústria que respeite, valorize e remunere adequadamente seus autores”.

Teresa Saldarriaga elogia o Conselho de Administração, com quem trabalha há oito anos. “Somos uma equipe disciplinada e muito comprometida com nossos associados. Não se pode dizer que este trabalho e as conquistas que alcançamos sejam obra exclusiva de Teresa Saldarriaga; são obra de todo o Conselho. E, claro, não podemos nos esquecer de Adriana Saldarriaga, nossa assessora jurídica, que tem sido nosso anjo da guarda desde o primeiro dia”, afirma a presidente do DASC, aproveitando a oportunidade para agradecer “pelo apoio, pela criatividade e pela assertividade em seus compromissos com a entidade”.


O caso colombiano é um exemplo concreto de como a organização coletiva, o respaldo internacional e a vontade política podem transformar profundamente o cenário dos direitos autorais no audiovisual. Nas palavras de Teresa Saldarriaga: “A DASC nasceu da necessidade, mas hoje é um referencial de proteção, dignidade e futuro para os diretores da Colômbia”.

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