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Desafios e Avanços em Questões de Gênero no Audiovisual no Congresso AVACI 2023



Entre as diversas atividades que aconteceram no Congresso Internacional AVACI 2023, realizado na cidade brasileira do Rio de Janeiro entre os dias 2 e 5 de maio, foi organizada a palestra "Desafios e avanços dos Gêneros no audiovisual", na qual foi feito um panorama da situação pela qual passam os autores audiovisuais no mercado de trabalho e sua luta pela igualdade de condições salariais e oportunidades.


Como ponto de partida, mencionou-se o cinema brasileiro do início do século XX, em que havia apenas três mulheres diretoras, tomando como referência a Cléo de Verberena ( Jacira Martins Silveira), que em 1931 dirigiu o longa-metragem “O mistério do Dominó Preto ” (também produzido e estrelado por ela) e depois de se casar com César Melani fundou o estúdio Épica Filmes em São Paulo, que teve que fechar após a morte de seu companheiro em 1934, assim como não conseguiu terminar “ Canção do Destino”, seu segundo filme.


O mistério do Dominó Preto (1931) Cléo de Verberena, Realizadora Audiovisual


Em 2017, a Agência Nacional do Brasil realizou uma pesquisa sobre o papel das mulheres no cinema. Os resultados mostraram que no período 1996-2017, 97% das apresentações foram dirigidas por homens; 92% escritos por homens e que pouco mais de 70% dos atores que participaram dessas produções eram homens.


A roteirista brasileira Sylvia Palma, membro do Conselho de Administração do GEDAR, destacou "a injustiça da invisibilidade das mulheres no setor audiovisual" e disse que "quando falamos de invisibilidade, falamos de emoções" e citou como exemplo que "a primeira sociedade de gestão coletiva do Brasil foi criada por uma mulher, Gonçaga, no início do século 20, que durou um século e ela nunca é mencionada na história do cinema.


Um tema que envolve todos

Ao longo da palestra, foi dada ênfase à "invisibilidade, assimetria, inequidade, falta de oportunidades e disparidade de gênero ".


A diretora argentina Carmen Guarini, vice-presidente da DAC, percebeu que “os números mostram a dificuldade das minorias para concretizar projetos audiovisuais. Acompanhamos as nossas sociedades na gestão dos direitos de remuneração para conseguir que os governos promulguem leis que respeitem os direitos, e sabemos que não existe discriminação de género no momento de registrar as obras, mas estas obras pertencem maioritariamente a homens. O que podemos fazer para alcançar maior equidade? ”.



Para Guarini, “o primeiro passo é poder reconhecer o problema para tomar decisões políticas sobre o assunto. É um problema de todos, não apenas das mulheres. Não basta reunir-se todos os anos à mesa. Queremos saber o que os homens pensam e queremos uma diversidade de pontos de vista”.


A diretora sustentou que “devemos construir uma ética que transforme a visão de todos, sair do politicamente correto, porque ainda não conseguimos alcançar a verdadeira igualdade. Na DAC, a incorporação de mais diretores ao Conselho de Administração contribuiu para o texto da nova lei do cinema, incluindo o conceito de equidade de gênero para alcançar: paridade na administração do Instituto de Cinema, igualdade de participação em comissões e júris e a criação de um fundo específico para a promoção de produções de mulheres diretoras e diversidades. Tanto na FESAAL quanto na AVACI conseguimos criar espaços de debate como este. Compreendemos a importância de conseguir uma maior presença das mulheres nestes espaços porque só a institucionalização da equidade de género ajudará a dar alguns passos rumo à verdadeira diversidade”.



Estatísticas a levar em consideração

A história do cinema brasileiro e os números do levantamento da Agência Nacional não são casos isolados. Os números compartilhados durante as reuniões do Congresso Internacional AVACI 2023 renderam porcentagens semelhantes em todos os países representados, incluindo Estados Unidos e Reino Unido.


“52% da população francesa é feminina e, ainda assim, quando se trata de serem levadas ao cinema, para elas há poucos lugares nas vitrines de heroísmo, ousadia ou exposição, sendo sua participação geralmente reduzida ao âmbito doméstico, as mulheres são mostradas (ainda hoje) em suas casas, ocupando funções não profissionais. É esse o lugar que elas deveriam ocupar?”, perguntou a diretora e roteirista audiovisual Anja Unger, membro do Conselho de Administração de La SCAM (França).


Os números indicam que apenas 7% dos filmes são produzidos por mulheres e -segundo pesquisas da SCAM- 37% das mulheres receberam direitos autorais em 2022 e 39% receberam menos de cem euros.


No Brasil, o último censo também mostrou que as mulheres são a maioria da população e que as desigualdades registradas na França também se repetem. O diretor brasileiro Malu de Martino (DBCA) explicou que “as ações devem começar aqui, em nós. Devemos tentar ter mais participação na administração, nas reuniões.

Em nosso país existem programas de promoção de conteúdo com diretoras e roteiristas mulheres. Temos que trabalhar nisso gradualmente. A única maneira de progredir é expandindo nossa participação. No Brasil temos muitos diretores. Nos meus filmes, eu procuro contratar mulheres nas equipes técnicas”.


A partir do reconhecimento do problema, a mudança é possível. Nesse sentido, Sylvia Palma deu uma informação positiva: “no Brasil, o mais importante festival de cinema é coordenado por duas mulheres”.



Além de compartilhar os dados, torná-los visíveis e refletir sobre eles, a roteirista chilena Daniella Castagno (ATN) propôs ir um pouco mais longe: “Queremos convidá-los a compartilhar a paridade na construção dessas sociedades das quais fomos parte fundadora da ALGyD, FESAAL ou AVACI. Temos sido uma parte essencial e queremos continuar sendo seus pares, trabalhando juntos de mãos dadas. Acreditamos que o merecemos e que o conquistamos. Temos as mesmas habilidades criativas. Dói quando decisões importantes são tomadas entre um pequeno grupo de homens. Não sentimos que precisamos solicitar um favor, uma permissão ou pedidos especiais para serem consideradas".



Entre as conclusões da mesa, Anja Unger propôs “promover a equidade de gênero e a diversidade nos órgãos estatutários da AVACI e em suas sociedades membro. O mesmo que no Conselho de Administração, no Conselho de Autores Audiovisuais e no Conselho Executivo”.



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